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“Contos de Ir Embora” ou de Chegar e Ficar?

Como definir “livros essenciais (canônicos)”? Seriam obras ilimitadas ou sem limites? Crescem (fortuna crítica) muito além da maioria. Não sabemos se atingirão a eternidade. Ora, se, ao menos, imaginássemos o tempo de duração dela, não estaríamos a discutir o sexo dos anjos. Então, qual o significado de obra ilimitada? Como acontece o desenvolvimento ou o […]

Por Nilto Maciel 28/11/2022

Como definir “livros essenciais (canônicos)”? Seriam obras ilimitadas ou sem limites? Crescem (fortuna crítica) muito além da maioria. Não sabemos se atingirão a eternidade.

Ora, se, ao menos, imaginássemos o tempo de duração dela, não estaríamos a discutir o sexo dos anjos. Então, qual o significado de obra ilimitada? Como acontece o desenvolvimento ou o crescimento de cada uma delas? Por estudos críticos ou analíticos. Primeiro surge o prefácio, seguem-se artigos, resenhas, comentários resumidos. No estágio seguinte, se aprontam dissertações acadêmicas, teses de mestrado e doutorado, ensaios. Iracema, de José de Alencar, se compunha originalmente de pouco mais de 20 mil palavras. Quantos milhares de vocábulos a respeito dela foram escritos?

O primeiro volume de peças ficcionais de Natercia Rocha não abriga o mesmo número de palavras de Iracema. Além disso, guarda perto de 150 anos de distância do romance de Alencar. Constitui-se de seis relatos concisos ou de tamanho médio. E este (prefácio) é o primeiro apenso dele, o primeiro apêndice, o primeiro “pedaço” enxertado após sua criação. Tomarei todo cuidado para não tornar evidente minha fome de comentarista. Nada de roubar os aplausos devidos à autora. Sou apenas o apresentador.

Não sei se Contos de ir embora se tornará “livro essencial”. Ou se o julgarão um dos mais importantes compêndios de ficção curta publicados no Ceará, em 2013. Ou no início do século XXI. Certamente não conseguirá fortuna tão grande quanto Iracema.

Deixando de lado tantas divagações, cheguemos ao nosso objetivo. Comecemos pelo título geral. Por que “contos de ir embora”? Na verdade, toda estória é de chegar. Ou de não continuar. Até os “eternos” e universais “e foram felizes para sempre” se limitam a ficar. O “ser feliz para sempre” consiste em alcançar a felicidade, o paraíso etc, e nele ficar. Também os dramas de Natercia não indicam o “ir embora”. Quiçá queiram dizer solidão. Ou chegar e ficar. Permanecer como antes. Em “O Retrato”, a protagonista se exibe ao leitor com os “cotovelos escorados na meia-porta, pé direito apoiado no joelho oposto”, sozinha na casa de taipa, a ruminar seu passado. O epílogo é assim: “E ela ficava (grifo meu) ali, escorando no joelho ora um pé, ora outro, esperando (grifo meu) chegar um novo dia” (...).

O mais relevante exemplo desse “ficar” (na solidão) quem sabe seja “Rua Bovary, s/n”. Expliquemos ao leitor menos experiente: a escritora cearense quis lembrar Emma Bovary, a personagem “solitária” (no casamento) e sofrida de Madame Bovary, de Gustave Flaubert. A protagonista de Natercia Rocha fala ou escreve a seu ex-marido. Relembra os antecedentes da separação, sem se afastar do seu presente: (“Hoje, quando olho para trás, penso”...), e termina também no tempo atual (dela, na narração): “Mudei de cidade, de ares, de trabalho e conquistei novamente minha rotina. (...) Mas agora vou à praia, sozinha (solidão, grifo meu), claro, certa de que não preciso da alegria ou felicidade inventada por alguém, para camuflar o labirinto de solidão (grifo meu) que compartilhamos nessa vida”.

Não quero fazer o papel do radical e, muito menos, do teimoso, aquele que finca pé numa opinião, seja ela interessante ou banal, e não arreda um milímetro. Sim, reconheço também o “ir embora” da autora. Se Maria das Dores (de “O Retrato”) não foi embora; o outro, o fotógrafo José Maria da Paixão ou apenas Zé Paixão (seu possível amado, o sonhado, o desejado, o esperado) desapareceu para sempre. Não voltou sequer para entregar a encomenda (a foto de Dasdô). Mandou por “gente da vila”, uns três meses depois. “Zé Paixão nunca mais voltou, nem para buscar a outra parte do pagamento, conforme combinado” com o pai da moça.

Em “Os olhos de Elizabete”, o outro (padre Pedro) também vai embora. Não da cidade ou da região onde viviam. Terá sido apenas da vida dela? Há, porém, nesse papiro, um “quê de mistério” (desculpem o uso de expressão tão gasta). A história se inicia com a protagonista (e assim vai até as proximidades do desfecho) e termina apenas com o padre, como se ela, a moça, tivesse ido embora, desaparecido, sumido.

“O Caminho do Meio ou O Meio do Caminho” é a short story na qual mais se evidencia o tema da partida ou do ir embora. O próprio título sugere viagem. Na verdade, se dá, literalmente, a grande viagem do protagonista ou do narrador, saído do sertão do Ceará no rumo do Norte do Brasil, em busca de emprego e de vida menos sofrida: “decidi arriscar a sorte pras bandas do norte, nas frente de borracha, trabalhar no seringal”.

A ficcionista conhece bem o sertão, a pequena cidade do interior e também a metrópole. Se não conhece (posso estar enganado), terá reproduzido (como o lambe-lambe de “O Retrato”), com muita fidelidade, esses três modelos de mundo. O sertão se revela nesse drama, bem como em “O Caminho do Meio”. A cidadezinha está presente, com todas as tintas (modo de vida, tipos humanos, comportamento etc), sobretudo em “O Caminho do Meio” e “Eta Vida Besta”. A cidade grande é perceptível em “Os Olhos de Elizabete”, “Rua Bovary, s/n” e, furtivamente, em “O Diário de Alina Reyes”.

Natercia Rocha apresenta extenso leque de linguagens: da matuta à erudita ou consentânea à norma culta, segura ao se aproximar do coloquial sem gíria ou modismo. Leem-se dezenas de vocábulos ou expressões próprias do povo nordestino, alguns grafados de acordo com a pronúncia: “se achegue, homi, desapei, saia desse sol”; “empapado de farinha”; “lambedô com agrião, cambucá e mastruço”; “parede nua de reboco”; “pé na taipa, embalando a tipoia”; “piada de gente” (apinhada ou repleta, cheia); “magovéi da peste” (magro velho: mirrado, desnutrido) etc.

Noutra direção, a contista ostenta intimidade com novas ou modernas técnicas narrativas, sempre a fugir do narrativo-descritivo linear e outros expedientes há muito desprezados pelos criadores mais apegados ao renovamento dos métodos. Assim, em “O Diário de Alina Reyes”, o escrito da protagonista (primeira pessoa) está reproduzido literalmente, com três breves intervenções do expositor dos fatos (jornalista?), não identificado.

Em “O Retrato” – um dos trechos mais belos do conjunto – observamos a circularidade da narração: num primeiro momento, Maria das Dores aparece, solitária, à porta do casebre, a olhar para a estrada. O demiurgo descreve o ambiente (a casa) – o espaço onde “vemos” a protagonista – e, concomitantemente, descreve, em flashback, a visita do fotógrafo, a morte do pai dela e outros acontecimentos. No remate, a moça “reaparece” na mesma posição e no mesmo lugar (como se estivesse todo o tempo, do início ao fim da narrativa, a pensar ou rememorar sua história quase sem enredo, de tão enfadonha e tão “parada”).

Enquanto as duas primeiras estórias estão na terceira pessoa, “O Caminho do Meio ou O Meio do Caminho” é contado pelo protagonista, o jovem sertanejo sem nome explícito. E, por este motivo, a linguagem é a do matuto analfabeto. Também na primeira pessoa foi redigido “Eta vida besta”. Não mais caboclo sem escolaridade, porém homem do interior, a lembrar fatos ocorridos em sua infância, sendo ele apenas testemunha. Em alguns trechos, o leitor se depara com expressões do dialeto do Nordeste brasileiro. É outra composição de alto nível.

“Rua Bovary, s/n” sai da boca de mulher, sem nome expresso – infere-se da leitura do segundo parágrafo: “e eu, mãos nos bolsos, quase sufocada”. Não há relatório de fatos. Só um ou outro movimento corriqueiro: “abri a porta da frente”, “vi os plátanos” etc. Trata-se de pintura essencialmente introspectiva, de agudo efeito descritivo (o leitor se sentirá como diante de uma fita de Bergman ou de um quadro impressionista): “vi as folhas avermelhadas dos plátanos no caminho, em formato de coração, e tive que pisá-las levemente, até chegar à saída de casa”.

Exauri-me. Além disso, o leitor certamente detesta lengalenga de leitor metido a crítico. Vamos, então, às seis peças dessa escritora cearense com jeito de narradora essencial.

Para conhecer esta e outras obras acesse nossa livraria virtual: livrariaedr.org.br

   

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